Nome de gringa, trajetória brasileiríssima

Maeve Jinkings protagoniza a série “Os outros”, que estreia em 31 de maio no Globoplay, e no segundo semestre estreia outra na Netflix e um longa-metragem. Atriz com forte identificação com a cena audiovisual pernambucana, ela nasceu em Brasília, se formou no Pará e virou atriz em São Paulo, antes de fazer a escala em Recife que mudaria o rumo de sua trajetória artística

Maeve Jinkings tem um nome que parece de gringa, mas é brasileiríssima. Muita gente acha que ela é pernambucana, mas nasceu em Brasília, cresceu em Belém, estudou teatro em São Paulo e foi se apaixonar por Recife já adulta — por intuição e alguma sorte, bem no momento em que uma leva importante de filmes estava surgindo por lá.

Nome forte do cinema nacional, a premiada atriz chega a 2023 marcando boa presença no streaming. Encara sua primeira protagonista numa série da Globo: “Os Outros” estreia no Globoplay em 31 de maio. No segundo semestre, também estará à frente do elenco de “DNA do crime”, produção da Netflix.

Em ‘Os Outros’, Maeve interpreta Mila, uma cabeleireira casada com Wando, personagem de Milhem Cortaz. Eles têm um filho e vivem num condomínio na Barra da Tijuca, onde se passa a trama de suspense e violência, desencadeada pelo contato com a família vivida por Adriana Esteves e Thomás Aquino. Drica Moraes, Guilherme Fontes e Eduardo Sterblitch também estão no elenco, que tem direção artística de Luisa Lima.

“A série vem neste momento em que acabamos de passar por uma tensão social grande com confinamento e pandemia. Tem personagens que vivem em situações extremas, cada um com sua curva dramática. É uma trama que me faz pensar sobre a responsabilidade de cada um, mais do que apontar a culpa do outro. Tudo isso no microcosmo de um condomínio fechado, tão simbólico dessa falência do coletivo”, explica Maeve.

A atriz faz um paralelo entre Mila, de “Os outros”, e Domingas, sua personagem na novela “A regra do jogo” que sofria violência doméstica.

“Domingas foi uma personagem marcante, a novela foi em 2015 até hoje me param na rua para falar dela. Tento pensar estrategicamente na minha carreira, e depois da novela neguei alguns papéis que tratavam da mesma questão, pra não me repetir. Agora com Mila achei interessante lidar com uma outra forma de violência, que é a que vai tirando dela a energia, que faz acreditar que ela é completamente dependente daquela estrutura familiar”, pondera ela.

“Os outros” estreia no dia 31 de maio às 18h, com o primeiro episódio aberto para não assinantes até o dia 5 de junho. A cada semana, serão disponibilizados dois episódios, sempre às quartas e sextas, até o dia 7 de julho.

Pulsão de vida no Recife

O caminho de Maeve rumo à carreira de atriz não foi em linha reta. De início, optou por fazer faculdade de Publicidade, e chegou a se formar no Pará. Mas logo partiu para São Paulo, já convencida de que deveria dar vazão a seu desejo pela interpretação. Para bancar a formação em teatro (passou pela escola do Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho e se formou em Artes Dramáticas pela USP), foi garçonete, trabalhou com produção cultural, foi monitora em cursos de gente como Jorge Furtado e José Eduardo Belmonte para poder fazer as aulas de graça. Começou a fazer peças, mas estava longe de ter estabilidade.

Se faltava grana, sobravam dúvidas, tanto na vida profissional quanto pessoal. Mas Maeve resolveu abraçar o desconforto. “Naquele momento descobri essa força que vem da vulnerabilidade, entendi que ela é importante para o ator, no set. Cheguei a trabalhar com preparação de atores depois, e falo pros mais jovens: se fortaleça para estar totalmente vulnerável no set.”

Quando tudo parecia confuso demais, aceitou o convite do padrasto para passar alguns dias com ele e sua mãe no Recife. Uma viagem que mudaria a vida de Maeve.

“Foi uma pulsão de vida em mim. Em São Paulo eu falava para os amigos que estava vendo tudo cinza. Pisei em Pernambuco e só via cores. Costumava dizer que Recife tinha cheiro de película. Fiquei pasma com aqueles artistas com identidade tão própria: Siba, Claudio Assis… Todos fazendo um trabalho autoral totalmente artesanal. Me apaixonei.”

Maeve adiou por cinco vezes a volta para casa. Depois de um tempo, acabou se mudando de vez, e passou uma boa temporada no Recife. Fez um curta, começou a conhecer a cena local, e aí pintou a oportunidade de fazer um teste para “O som ao redor” (2012), de Kleber Mendonça Filho. Ganhou o papel, e a partir daí, uma carreira sólida no cinema.

Do cineasta fez também “Aquarius” (2016). De Gabriel Mascaro, “Boi neon” (2015). Claudio Assis a convidou para fazer a preparação de elenco de “Big Jato” (2015). Protagonizou “Amor, plástico e barulho” (2015) e “Açúcar” (2020), de Renata Pinheiro. “Foram tantos filmes de lá que todo mundo começou a achar que eu era pernambucana”, diverte-se Maeve, que recentemente voltou a viver em São Paulo.

No segundo semestre, Maeve estreia a série “DNA do crime”, que Heitor Dhalia finaliza para a Netflix. E em breve também lança “Pedágio”, segundo longa com a diretora Carolina Markowicz (o primeiro foi “Carvão”, de 2022).

Em “DNA do crime”, a atriz dará vida a Suellen, sua primeira personagem num roteiro de ação. A história é inspirada em uma história real de assalto na fronteira entre Brasil e Paraguai. Suellen é uma policial que acaba de ter um filho, e que forma dupla com o colega interpretado por Rômulo Braga.