LUIZ FERNANDO CARVALHO APRESENTA SEU NOVO PROJETO NA TELEVISÃO

Minissérie da TV Cultura abordará o bicentenário da Independência
através de uma nova dramaturgia histórica sobre o Brasil do século 19

 

Em 7 de setembro de 2022, o Brasil celebra dois séculos de sua Independência. O fato histórico dá origem ao novo projeto de Luiz Fernando Carvalho na televisão: ‘200 anos’, minissérie que ele vem desenvolvendo a partir de um convite da TV Cultura com estreia prevista para o ano que vem.

‘Acredito na missão e na função da TV aberta, por seu papel de ajudar a formar cidadãos brasileiros, através de seus conteúdos educativos e autorais. A TV Cultura identificou em minha trajetória este traço de aliar cultura e educação sem abrir mão do entretenimento’, conta Luiz Fernando, cujo currículo reúne mais de 35 anos de uma carreira repleta de êxitos na televisão e no cinema.

‘Identificamos inúmeros pontos de convergência entre o olhar de Luiz Fernando Carvalho para o audiovisual brasileiro e a nossa concepção e crença de TV Pública. Nestes dois anos de gestão, notamos o crescimento de audiência da TV Cultura, o que comprova que é possível fazer televisão aberta com bom conteúdo e comprometida com as premissas de nosso estatuto que são a educação, a informação, cultura e entretenimento com qualidade”, diz José Roberto Maluf, Presidente da Fundação Padre Anchieta.

A história que a História não conta

O projeto é ancorado no que se convencionou chamar de uma nova historiografia do país. A ideia central de Luiz Fernando é reivindicar a participação de quem foi apagado nesses 200 anos dos livros de História, dando o protagonismo a mulheres, negros e indígenas. Na visão do diretor, a minissérie pretende trazer conhecimento deste país que até então estava submerso e escondido dentro de uma didática eurocêntrica.

O ponto de vista dos excluídos domina ‘200 anos’, através de uma narrativa que será contada a partir de vozes múltiplas, apresentando um país nascido sob o signo da pluralidade. ‘É uma escavação, nós vamos escavando e escavando em busca de passado e presente para desenhar o futuro de um país mais belo e justo para todos’, afirma o diretor.

 

Independência ou Golpe?

O desejo de falar sobre o Brasil do século 19 habita a criação de Luiz Fernando há tempos. Ele já tratou da época em ‘Os Maias’ e ‘Capitu’ (TV Globo), mas enquanto a primeira se passava em Portugal, a segunda apresentava uma história intimista e teatralizada. Desde então, o diretor buscava falar sobre esses primeiros anos de um século tão fundamental para entender o processo histórico brasileiro.

‘Eu diria que é um trabalho atual, não de época. O século 19 é um período de formação, ele inicia avanços e tragédias com as quais lidamos até hoje. Sempre foi falado como um momento luminoso e de conciliação, mas hoje sabemos que não foi bem assim’, ressalta o diretor, assinalando que a história brasileira é bárbara, marcada por golpes e genocídios, que estarão muito presentes nos acontecimentos da minissérie.

 

Os heróis que não estão nos livros

O processo de revisionismo histórico que a minissérie propõe tem como um dos objetivos ressaltar figuras que não aparecem nos livros didáticos e personagens que a história oficial jogou para escanteio. Figuras como a da Imperatriz Leopoldina terão destaque e sua importância para a Independência virá à tona durante os capítulos.

Da mesma forma que o foco estará em líderes negros, como Maria Felipa, cuja participação foi referencial na luta pela independência da Bahia, e o Padre José Maurício, maestro negro da Corte Imperial, mas ausente dos registros tradicionais.

 

Nova dramaturgia histórica

‘Sempre penso em meus trabalhos sobre ‘Que País é Esse?’ e agora estamos atualizando essa discussão’, conta Luiz Fernando, que aponta para o uso de informações atuais no roteiro. É o caso do envenenamento de Dom João VI, que só foi confirmado no início dos anos 2000, após uma exumação de seu cadáver. É um fato que altera a história oficial e que vai impactar diretamente na ‘nova dramaturgia histórica’ proposta por ‘200 anos’.

‘Sou um criador que pensa cultura e país e o convite da TV Cultura veio ao encontro de pesquisas pessoais minhas. Vamos procurar fazer este diálogo entre entretenimento e a atualização histórica. Não vamos negar o prazer do entretenimento, da capacidade de emocionar e conduzir o espectador’, assinala o diretor, que costuma se definir como um ‘arquiteto dos sentidos’ e cita uma frase de Machado de Assis para falar de sua proposta de linguagem: ‘a estética que me interessa é a estética do coração’.

 

Uma equipe múltipla e internacional

A minissérie terá um elenco formado por atrizes e atores brasileiros e estrangeiros, de modo que os muitos sotaques e idiomas ouvidos no Brasil na época estejam representados em cena, respeitando as origens desses personagens. O projeto vai trazer nomes consagrados e também apostará na descoberta de novos talentos.

Luiz Fernando leva para a TV Cultura muitos profissionais de excelência que fazem parte de sua trajetória. Entre eles, estão o roteirista e dramaturgo Luís Alberto de Abreu, a cenógrafa Mariana Villas-Boas, o artista visual Raimundo Rodrigues, o estilista Alexandre Herchcovitch e o maestro Tim Rescala.

 

A missão da TV aberta

O projeto ‘200 anos’ retoma a missão da TV aberta na concepção de Luiz Fernando Carvalho, que encontrou eco nos valores da atual gestão de José Roberto Maluf na TV Cultura. ‘É a produção de um conteúdo educativo, com a missão de reavaliar continuamente o processo histórico, recolocando as questões no presente e revisando ideias de poder, valor, justiça e moral’, analisa o diretor.

‘A TV Cultura tem em seus mais de 50 anos de história um DNA ligado às produções de teledramaturgia não convencionais. Talvez alguns não saibam, mas por aqui passaram nomes como Antunes Filho, Antonio Abujamra, Ademar Guerra, Walter George Durst e, mais recentemente, Fernando Meirelles. A chegada do Luiz Fernando à nossa emissora é uma reconexão dessa história da TV cultura e suas origens’, diz Eneas Carlos Pereira, Diretor de Programação da TV Cultura.