Com pouco mais de uma década de carreira, Chay Suede se consolida como um dos grandes atores de sua geração

Quem acredita em destino pode crer que Chay Suede jamais conseguiria escapar da carreira de ator, ainda que um futuro diante das câmeras não habitasse nem os seus sonhos mais remotos. As artes cênicas eram algo impensável e distante para o capixaba de Santo Antônio – um bairro histórico da periferia de Vitória – que hoje, aos 29 anos, mesmo sem uma educação formal em interpretação até se tornar um adulto, coleciona grandes papéis no cinema e na TV.

Em pouco mais de uma década de trajetória, participou de nove novelas e séries, com destaque para “Império”, “Babilônia”, “Novo Mundo”, “Segundo Sol” e “Amor de Mãe”, todas da TV Globo, e do mesmo número de longas-metragens, dirigido por alguns dos diretores mais prestigiados do país, como Neville d’Almeida (“A Frente Fria que a Chuva Traz”), Daniela Thomas (“O Banquete”) e Jorge Furtado (“Rasga Coração”).

Em seu mais novo projeto, o suspense psicológico “A Jaula”, de João Wainer, que estreia nos cinemas dia 17 de fevereiro, Chay interpreta o assaltante Djalma, trabalho que considera o mais difícil de sua carreira. Ao tentar roubar um carro estacionado na rua, o ladrão se vê preso dentro do veículo, sem água e comida, privado de qualquer comunicação com mundo externo, a não ser com um médico famoso que planejou a armadilha por vingança, depois de tantas vezes na vida ser vítima de assaltos.

“Foi um processo muito solitário e com certeza o mais difícil da minha carreira até agora.  Foi o que mais exigiu de mim”, revela o ator.  “Eu adorei o roteiro, mas já ficava com um frio na espinha só de pensar que poderia ser eu a pessoa fechada dentro daquele carro por dias e dias.  Será que tudo que eu tinha feito até aquele momento tinha me preparado para encarar o personagem? Eu fiquei com muito medo, mas topei porque sabia que não poderia perder a chance”, continua.

A preparação foi árdua e impôs uma entrega enorme. Como precisava emagrecer muito em um curto período de tempo, parou de fazer musculação, começou a praticar boxe todos os dias e comia somente alface e frango, inclusive depois do início das filmagens, porque o personagem perderia peso ao longo do confinamento no automóvel. De modo a assimilar melhor o sotaque, os trejeitos e as gírias de um paulistano das “quebradas”, teve a oportunidade de conviver e conversar – por uma iniciativa do diretor – com nomes que serviriam de referência para a construção do personagem, como o Djan, lenda do pixo da capital paulista, o barbeiro do rapper Mano Brown e o escritor Ferréz, outra lenda da periferia da cidade. Mas o grande desafio ainda estava por vir.

“Quando terminamos a preparação, começou de fato o pesadelo, era ainda mais difícil do que eu imaginava. Era desconfortável e claustrofóbico. Eu ficava sentado dentro do carro praticamente o dia inteiro, um dia após o outro. Aí eu encontrei uma maneira muito solitária de fazer o filme. Não conversava com ninguém e passava a maior parte do tempo dentro do camarim. Não ter com quem contracenar na maior parte do tempo e sentir na pele a decadência do personagem era muito desafiador. Cheguei no limite da exaustão mental e física, mas eu sentia que estava amadurecendo como ator e que colheria os benefícios da experiência. Quando acabaram as filmagens eu tinha a sensação de que tínhamos feito uma coisa intensa, verdadeira, com momentos muito reais”, revela.

Antes de se tornar um dos principais atores de sua geração, a grande paixão de Chay sempre foi a música. Foi no terceiro ano do ensino médio, com o grupo Itatiaia Dreams, que experimentou pela primeira vez a sensação de se apresentar artisticamente em um concurso de bandas locais de Vitória no qual conquistou o primeiro lugar.

Batizado com o mesmo nome de seu pai, Roobertchay da Rocha Filho criou o seu nome artístico inspirado no personagem de Brad Pitt no filme Johnny Suede (2001). Maior incentivador de sua carreira, o pai desde o início apostou em grandes realizações do filho.

Obstinado, sonhador e autodidata, com apenas o ensino fundamental completo, Roobertchay pai começou sua trajetória profissional vendendo bananas na rua, abriu uma empacotadora de farinha e teve uma pequena agência de publicidade até enveredar pelo ramo de eventos, primeiro com uma exposição de tubarões vivos e depois com a Expo Alien, que reconstruía casos famosos de avistamentos de extraterrestres, ambos itinerantes. O primeiro contato de Chay com o audiovisual aconteceu justamente pela insistência do pai, quando foi acompanhá-lo numa viagem ao Rio de Janeiro para ajudar na montagem de uma exposição em um shopping na Zona Norte da cidade.

“A gente dormia no Megara Motel, que ficava bem em frente ao Engenhão, e um dia ele me sacudiu às 7h da manhã apontando para a televisão. Era uma mulher na Record falando do último dia de inscrições para o reality de talentos musicais ‘Ídolos’, no Engenhão. Ele falou: ‘vou te inscrever’. Eu não queria de jeito nenhum. Era muito tímido e achava que os jurados podiam me ver como um daqueles caras que são zoados na edição. Eu pensava que se eu fosse o palhaço da televisão nunca mais ia conseguir montar uma banda. Aí, dentro do carro, já a caminho da montagem do evento no shopping, eu perguntei se ele achava mesmo que eu tinha alguma chance. Ele puxou o freio de mão, me olhou nos olhos e disse: ‘meu filho, presta bem atenção no que eu vou te falar. Se você aparecer na televisão, se a câmera mostrar a sua cara por um segundo, você nunca mais vai sair. Aí eu fiquei chocado, ele foi muito incisivo. Eu falei: ‘então vamos, então vamos’”, diverte-se o ator, que foi passando de fase em fase até chegar entre os cinco finalistas.

“Foi assim que começou o negócio na televisão. Foi muito louco, muito improvável. Eu não cantava tão bem quanto os outros, era muito mais de escrever música, era o que eu gostava de fazer. Fui passando de fase porque as adolescentes começaram a gostar de mim e torcer por mim. Percebi que eu era o único participante que tinha plateia de fora, apareciam fãs de camiseta com a minha foto.”

Ao fim do reality, foi logo convidado para fazer a novela juvenil “Rebeldes”, devido ao seu sucesso com o público adolescente. O ator inicialmente demonstrou resistência à ideia, negou o convite, mas novamente estimulado pelo pai voltou atrás.

“Eu nunca tinha pensado em ser ator, nem por um segundo. Eu sempre tive relação com música. Na minha adolescência eu queria ouvir Ramones e usar munhequeira na Curva da Jurema, que era onde os punks se encontravam em Vitória, mas como eu vinha de uma família simples, topei pela grana e pela convicção do meu pai de que seria bom pra mim. Eu pensei: ‘o que me custa passar um ano fazendo uma coisa que eu não gosto tanto para depois ter mais possibilidade de fazer música, até porque era uma novela musical. Então eu fui muito com essa cabeça de segurar a onda, ganhar o meu dinheirinho, conhecer uma galera nova. Eu tinha acabado de fazer dezoito anos”, recorda.

Após a novela, o capixaba decidiu investir mais a fundo em sua carreira musical. Fez shows por todo o Brasil com “Os Rebeldes”, banda fictícia do folhetim que foi transposta para os palcos, e em 2013 lançou o disco autoral “Chay Suede”.  Depois de uma participação na série “O Milagre de Jesus” e o término de seu contrato com a Record, fez sucesso em uma breve passagem como VJ da MTV no programa “A Hora do Chay” – encerrado junto com o fim do canal, três meses após a estreia – e criou o programa de youtube “Ao Vivo no Jardim de Inverno”, em que convidava outros artistas e bandas de sua geração para tocarem despretensiosamente com ele.

A retomada definitiva da carreira de ator se deu em 2014, quando passou em um teste para a novela “Império”, exibida no horário nobre da TV Globo. Ali, sua trajetória começou a tomar novos rumos e sua visão do que era o ofício do ator se transformou completamente.

“Naquele momento começou a minha saga de virar ator, porque me dei conta de que eu ainda não era, apesar da experiência na Record. O papel era de um nordestino, eu teria que aprender uma prosódia de Recife e estudar o personagem do Alexandre Nero, porque eu faria a versão jovem dele na primeira fase da trama”, recorda.

O diretor Papinha teve a ideia de chamar o argentino Eduardo Milewicz, um experiente preparador de atores, para trabalhar com o elenco da novela. Já no começo do processo, Milewicz entendeu que seria necessário dar mais atenção ao jovem ator, que, por sua vez, percebeu que precisaria se dedicar muito nesta nova fase da carreira.

“O Milevicz viu logo o quão cru eu era e exigiu muito de mim. Ele mostrava meus erros e acertos na frente de todo mundo. Dizia: ‘você olha para a cara do Chay e ele não parece um ator em cena, mas olha o que ele conseguiu fazer aqui e aqui’. Percebi que eu precisaria remar muito. Pensava: ‘esse cara está achando que eu não estou à altura desse personagem’. E eu não estava mesmo”, recorda.

O argentino pediu, então, que Chay participasse de todas as aulas, contracenando com todos do elenco. O capixaba virou uma espécie de assistente de Milewicz: carregava a câmera, filmava, fazia jogo de cena com atores que não tinham com quem contracenar. E se apaixonou pela profissão.

“Ele me botava na cova dos leões o tempo inteiro. Eu tive o privilégio de ter um dos grandes mestres latino-americanos como professor, além de diretores que cuidaram de mim como se fosse uma promessa. Nunca tinha feito uma peça de teatro na vida, mas ali eu me senti muito valorizado e entendi de verdade o que era ser ator. Fiquei completamente apaixonado, louco, obcecado pelo trabalho, pensando 24 horas por dia naquilo.”

Depois de “Império”, Chay mergulhou de cabeça nos estudos. Participou de oficinas, como a do renomado espanhol Juan Carlos Corazza, fez cursos para aprimorar técnicas de interpretação, assistiu centenas de filmes, séries e novelas, sempre se entregando de corpo e alma aos seus personagens.

“A Laura [Neiva, sua esposa] fala uma coisa engraçada… ela diz que eu entro no ‘Modo Chay’, que é ficar obsessivo por um assunto durante um período de tempo. Tipo, se eu me interesso por raças de cachorro, aí fico estudando aquilo por um mês sem parar. O mesmo vale para os papéis que interpreto”, conta.

Os convites para papéis de destaque – no cinema e na TV – se tornaram cada vez mais frequentes. Só nos últimos oito anos, Chay trabalhou em 15 projetos – muitos deles como protagonista –, vivendo variados tipos de personagens, dos cômicos aos sérios.

“Agora eu sou chamado pra fazer coisas que não necessariamente estão imediatamente ligadas ao meu perfil”, afirma.

Um importante salto recente na carreira televisiva foi a atuação na novela “Segundo Sol” (2018), na qual interpretou o irreverente capoeirista baiano Ícaro e recebeu grande reconhecimento da crítica e do público. Outros projetos de TV incluem Amor de mãe (2019); Valentins (2018); Novo Mundo (2017); A Lei do Amor (2016) e Babilônia (2015).

Depois de fazer participações nos filmes “Jonas” (2015), de Lô Politi, e “A Frente Fria que a Chuva Traz” (2016), de Neville d’Almeida, a trajetória do ator no cinema decolou de fato em 2018, no filme “Rasga Coração”, de Jorge Furtado. De lá para cá trabalhou com cineastas de gerações e perfis distintos: “O Banquete” (2018), de Daniela Thomas; “O Sofá” (2019), de Bruno Sáfadi; “Domingo” (2019), Fellipe Barbosa e Clara Linhart; “Minha Fama de Mau” (2019), de Lui Farias – no papel de Erasmo Carlos; “A Jaula” (2022), de João Wainer.

“Adoro fazer cinema. Sempre que tenho a possibilidade de agenda, tento encontrar espaço para fazer filmes, mesmo que em papéis pequenos. Isso me possibilitou trabalhar com diretores que eu admirei a vida inteira. Acho que o trabalho do ator se dá de forma mais plena no cinema com toda a complexidade e possibilidades de interpretação que permite”, reflete o capixaba, cujos trabalhos no horizonte incluem o papel de Ayrton Senna na série biográfica sobre o piloto (ainda sem data de filmagem, adiada por conta da pandemia), bem como dois projetos de ficção em que assinará o roteiro e a produção executiva, inspirados na história de seu avô e nos bastidores da televisão brasileira das últimas décadas.

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