Mariana Lima encena aula-performance em ‘CérebroCoração’

Dirigido por Enrique Diaz e Renato Linhares, primeiro texto teatral da atriz foi desenvolvido a partir de uma pesquisa sobre memória e neurociência

CérebroCoração – De 10 de maio a 17 de junho – Oi Futuro

‘CérebroCoração’ é o resultado de um longo processo criativo que Mariana Lima experimentou nos últimos sete anos. Motivada pela leitura de ‘Em Busca do Tempo Perdido’, de Proust, e por uma série de acontecimentos pessoais, ela começou a pesquisar, improvisar e escrever sobre memória, linguagem e neurologia. A versão final do texto foi construída no período de ensaios, com a colaboração de Enrique Diaz e Renato Linhares, também diretores do espetáculo, com estreia marcada para 10 de maio no Oi Futuro (Flamengo). Em cena, a atriz encena o que definiu como ‘aula-performance’, ao borrar a fronteira entre o teatro e a sala de aula.

‘Eu sempre escrevi muito, mas em cadernos que só eu acessava. Tentei compensar de algum modo minha lacuna de não ter feito universidade com o autodidatismo, lendo e participando de aulas como ouvinte. Algumas delas me transformaram profundamente. Aquilo me despertou um interesse novo e muito pulsante na performance de um professor na sala de aula, tensionando o mundo das ideias com a presença dele e a dos alunos, despertando interesses e provocando erupções inesperadas. Fiquei com vontade de experimentar o que seria fazer uma aula como um espetáculo e fui juntando tudo neste formato’, conta Mariana.

Não à toa, durante o período de ensaios, o espetáculo foi apresentado para alunos do Ensino Médio em algumas escolas da Rede Estadual do Rio de Janeiro (São João de Meriti e Nova Iguaçu). O texto foi mostrado, ainda em processo, em salas de aula, sem nenhuma maquiagem cênica, contando apenas com a força da palavra. As muitas conversas com estudantes e professores também foram fundamentais para a versão final da peça. Ao longo da temporada, os encontros pelos colégios vão continuar.

‘Em alguns casos, os alunos acharam que era uma aula de verdade, foi muito bonito. Viram ali uma cientista falando de cérebro, de neurologia. Só acharam que era uma aula diferente, onde estavam sendo convidados para fechar os olhos e olhar para dentro’, relembra Mariana, cujo desejo de levar teatro para as salas de aula vem ao encontro de furar uma certa bolha que separa o teatro da juventude e de uma massa muito carente de cultura no País.

‘Não me interessa fazer espetáculo para uma bolha de gente, feita de pares e algoritmos. Como fazer para que a massa fora da bolha vá ao teatro e se interesse? Penso que ir até eles pode ajudar a responder essa pergunta’, analisa.

Perguntas, aliás, não faltam no texto de Mariana. A partir de algumas informações científicas, ela compartilha uma série de questionamentos, expõe pensamentos, fragilidades e verdades ambíguas. Para ela, tanto o teatro como a sala de aula são lugares de transformação e de troca, onde você nunca sai da mesma forma que entrou.

‘Não tenho desejos e inclinações messiânicas, de querer expor a minha verdade. O espetáculo é mais um compartilhamento de perguntas do que de respostas.  Tem mais a ver com expor a falha do que expor certezas e pensamentos bem acabados’, sugere.

Entre as referências usadas na concepção do espetáculo, está a obra de Leonilson (José Leonilson Bezerra Dias (1957-1993), artista visual cujo trabalho é predominantemente autobiográfico e movido pela necessidade de registrar sua subjetividade. ‘É bom lembrar de olhar para você mesmo, não o você que se expõe midiaticamente o tempo todo. É poder olhar para o que você seria bem lá dentro, do jeito que o Proust, a Clarice, o Leonilson e a Hilda Hilst olharam’, conclui Mariana.

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A trajetória de ‘CérebroCoração’ começou em São Paulo, há cerca de sete anos. Neste período, Mariana gravava uma série de improvisos em uma sala de ensaio e enviava para a atriz e dramaturga Isabel Teixeira, que transcrevia e retornava com outras propostas e estímulo de escrita. O resultado do trabalho gerou um texto chamado ‘Câmera Escura’, que foi apresentado para amigos em sessões íntimas. Além do processo ser determinante para o desenvolvimento da sua personalidade como escritora, parte do material escrito foi levado para a peça atual.

Em paralelo, Mariana leu os sete volumes de ‘Em Busca do Tempo Perdido’, de Proust, e expandiu os seus horizontes no campo relacionado à memória e lembranças. A pesquisa foi atravessada por uma intensa crise pessoal: ‘Comecei a tomar remédios e a me interessar por esse desvio, essa falha no funcionamento da máquina que é a nossa cabeça. Era como se eu estivesse sendo comandada pelo meu coração. Como se ele estivesse na minha cabeça, um coração pulsante, machucado e sensível’, relembra a atriz.

O percurso chegou à etapa final com a chegada de Enrique Diaz e Renato Linhares, que assumiram a direção e a colaboração dramatúrgica da empreitada. ‘Já trabalhamos muito juntos. Por isso mesmo, queríamos navegar em mares desconhecidos e estar em outro lugar agora, diferente e novo. Os dois foram muito ativos no processo de escrita, fui muito desafiada e estimulada por eles’, conta a atriz, que dividiu o palco com Renato em ‘A Mulher que Matou os Peixes… E Outros Bichos’ (2009) e foi dirigida por Diaz em ‘A Primeira Vista’ (2012), ‘A Paixão Segundo G.H.’ (2002) e ‘Gaivota – Tema para um Conto Curto’ (2006).

 

FICHA TÉCNICA

Atuação e dramaturgia: Mariana Lima

Direção e colaboração dramatúrgica: Renato Linhares e Enrique Diaz

Assistência de direção: Luisa Espíndula
Cenografia: Dina Salem Levy

Iluminação: Beto Bruel

Vídeos e projeções: Paola Barreto e Lucas Canavarro

Trilha sonora: Lucas Marcier

Figurinos: Marina Franco
Preparação Corporal: Laura Samy

Consultoria em arte contemporânea: Luisa Duarte

Operação de som: Joana Guimarães

Operadores de vídeo: João Câmara e Jonhatan de Souza

Operador de luz: André Martins

Camareira: Conceição Telles

Captação de imagens em estúdio: Théo Tajes

Construção de cenografia: Camuflagem

Cenotécnico responsável: Wilker Barros

Visagismo: Brenno Santos

Fotografia: Fernando Young

Arte gráfica: Cubículo – Fábio Arruda e Bleque

Assessoria de imprensa: Factoria Comunicação – Vanessa Cardoso e Pedro Neves

 

Produção e administração: Quintal Produções

Direção geral: Verônica Prates

Coordenação artística: Valencia Losada

Produção executiva: Thiago Miyamoto

Assistência de produção: Eduardo Alves

Diretor de palco: Iuri Wander

Contrarregra: Bruno de Oliveira

 

Serviço:

CérebroCoração

De 10 de maio a 17 de junho
Quinta a domingo, às 20h

Oi Futuro Flamengo (Rua Dois de Dezembro)

Ingressos a

Duração: 70 minutos
Classificação Indicativa: 14 anos