FELIPE HIRSCH ABRE TEMPO FESTIVAL COM NOVA MONTAGEM

Espetáculo traz a reunião de ‘A Tragédia Latino-Americana’ e ‘A Comédia Latino-Americana’

Fotos em alta resolução: factoriacomunicacao.com

A TRAGÉDIA LATINO-AMERICANA E A COMÉDIA LATINO-AMERICANA – DIAS 13 e 14 DE OUTUBRO – THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO

Prêmio Bravo! de Melhor Espetáculo
Prêmio Shell de Melhor Direção
Prêmio Governador do Estado de Melhor Peça

O projeto ‘Puzzle’ (2013) representou um importante marco na trajetória de Felipe Hirsch. ​Ele levou para o palco a obra de autores brasileiros contemporâneos em um espetáculo dividido em três partes (a, b, c) que estreou na Feira do Livro de Frankfurt. O êxito da empreitada rendeu uma quarta montagem (d) e elogiadas temporadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Com parte do ​coletivo formado na ocasião (Ultralíricos), Felipe deu um passo adiante e concebeu um novo projeto, com base na literatura latino-americana e no cenário sócio-político do continente. ‘A Tragédia Latino-Americana e a Comédia Latino-Americana’ cumpriram temporadas em São Paulo no ano passado e agora serão apresentadas em uma mesma montagem, realizada especialmente para o Tempo Festival. O espetáculo será apresentado nos dias ​13 e 14 de outubro no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

‘A Tragédia Latino-Americana’ é estruturada a partir de fragmentos, adaptações e trechos de obras de ​seis países da América Latina: Argentina (Pablo Katchadjian​, J.R.Wilcock, Salvador Benesdra​), Brasil (​Marcelo Quintanilha, ​Glauco Mattoso, Reinaldo Moraes​, Dôra Limeira​, Lima Barreto, Samuel Rawett, Augusto de Campos), Chile(Roberto Bolaño), Cuba (Cabrera Infante), México (​Gerardo Arana) e Uruguai (Hector Galmés).

Já ‘A Comédia Latino-Americana’ resultou de uma pesquisa através de textos vindos de Argentina (J. P. Zooey, Pablo Katchadjian), Brasil (Lima Barreto, Sousândrade), Chile (María Luisa Bombal), Colômbia (Andres Caicedo), Cuba (Cabrera Infante), Equador (Pablo Palácio), México (Juan Villoro) e Uruguai (Hector Galmés e Horacio Quiroga).

A presença internacional se estende ainda para o elenco, que contará com a participação do ator argentino Javier Drolas e da chilena Manuela Martelli. Eles estarão ao lado de Danilo Grangheia, Georgette Fadel,​ Magali Biff​ e Guilherme Weber​ – vindos de ‘Puzzle’ – e de Caco Ciocler, Camila Márdila​, Pedro Wagner, Nataly Rocha​ e Julia Lemmertz, que se juntaram ao grupo. O espetáculo contará ainda com seis músicos (Ultralíricos Arkestra) que vão executar ao vivo a música escrita e arranjada especialmente para o projeto por Arthur de Faria.

Mais uma vez, Felipe renovou as parcerias com Daniela Thomas e Felipe Tassara (Direção de Arte) e Beto Bruel (Iluminação), presentes em todos os seus espetáculos dos últimos 15 anos. A cenografia é toda formada por enormes blocos de isopor, em uma proposta que segue a tendência de se concentrar no essencial.

O que já foi dito sobre o projeto:

“(…) Se O Rei da Vela do Oficina desvencilhou-se desse emaranhado sólido ao encontro de seu próprio momento, A Tragédia Latino-Americana tem força para acrescentar, na linha histórica, mais uma pedra fundamental ao famigerado Brasil”.

Leandro Nunes, O ESTADO DE SÃO PAULO

“(…) Entre as cabeças e as carnes, que extirpamos de nós depois de madeiras e minérios, esses homens e mulheres nos oferecem a visão do espírito de uma época, de um lugar no mundo, de uma forma nova de fazer teatro, literatura e arte. Pateticamente cultos, anárquicos na forma, eternamente subversivos. Salve A Tragédia Latino Americana. Por ela, por causa dela, apesar dela, estamos aqui muito mais vivos e profundamente acordados que o resto do mundo. Só precisamos sobreviver a nós mesmos. No Brasil de 2016, espetáculos como este –um farol varrendo o escuro do mar em fatias de luz, totem com olhos incandescentes para além do abismo – ajudam”.

João Paulo Cuenca, FOLHA DE SÃO PAULO

(…) É contra os monolitos que este novo trabalho de Hirsch se impõe. E sabendo que faz teatro, e da condição efêmera dessa arte, põe em cena uma infantaria de atores diante de uma imensa barricada de isopor, dando a chance de os atores brincarem de construir e desconstruir o mundo à própria vontade, modelando o cenário, os textos e as muitas ideias que formam esse complexo quebra-cabeças a respeito da condição trágica do homem latino-brasileiro (…)”

Luiz Felipe Reis, O GLOBO

“Visualmente deslumbrante, espirituosa, empolgante, multilíngue e diversa (…) por mais difícil que sejam os temas, tão poéticos, musicais e sensuais são os momentos que o diretor Felipe Hirsch criou para sua monumental obra de arte. Não só a música é um protagonista central nesta noite, mas também o design de palco, que é permanentemente desenvolvido, destruído e reconstruído. Preocupado, mas afetuoso, o conjunto é confrontado com a complexa identidade latino-americana, nega a repressão e abre oportunidades únicas para se aproximar da América Latina. (…) Quando as crianças brincam com blocos de construção, então isso funciona de acordo com o princípio construir, destruir, o que construiu. Este é também o caso dos grandes blocos de poliestireno, que formam uma parede no início de ‘A tragédia latino-americana’: às vezes se parecem com o mar de gelo de Caspar David Friedrich, eles formam uma superfície plana a partir da qual cada vez mais blocos são colhidos . No final, os atores os empilham de volta para uma parede que parece corajosa. Mas então ela cai novamente. Is there always the chaos – or the new beginning? (…) A Tragédia é uma ópera recitada. A banda de quatro peças – piano, guitarra elétrica, fagote e bateria – varre a intimidade da música de câmara, mergulha humor íntimo, deriva a noite em delírio jazz moderno. A música é a única autoridade para comentar o palco – parábolas poéticas, cotidianas ou fantasticamente exageradas de exploração, sexo, violência, religião, pobreza e desesperança – e, com pathos, as rejeita.”

RHEIN NECKAR ZEITUNG

“(…) A história que a peça nos conta a partir da voz de autores latino-americanos é uma narrativa que nossa educação, seja formal, seja informal, nos ensinou a ignorar. Aprendemos a ignorar os índios que morreram e morrem violentamente nas mãos do desenvolvimento. Aprendemos a ignorar os escravos que atravessaram dores do tamanho de oceanos. Aprendemos a ignorar os milhões de miseráveis (des)tratados até hoje como pessoas capazes somente de servir. Aprendemos a ignorar quem não veste a mesma camiseta que incorporamos – cada camiseta presa aos corpos é uma máquina que semeia a ausência de empatia. Ignorar se tornou uma maneira de nos proteger de uma história que, olhada de perto, nos deixa com calafrios.E a maior qualidade da peça dirigida por Hirsch é a coragem de resgatar, ao mesmo tempo, o passado e o presente que dão calafrios, e mostrá-los com a sutileza e o sorriso incomodado de quem sabe o peso incalculável de cada gota de sangue arrancada à força. O que mais me espantou ao ver A Tragédia Latino- Americana foi voltar do teatro e me dar conta que a peça não está apenas em cartaz no Sesc Consolação, em São Paulo. A Tragédia Latino- Americana está em cartaz aqui em casa. Na minha e na sua casa.

Ela acontece a cada minuto que compactuamos com a violência que sustenta o chão onde pisamos – e falo aqui principalmente da violência que reduz o outro e nós mesmos a uma rasa definição e nada mais. A Tragédia Latino-Americana acontece a cada minuto em que, numa escola, numa conversa, num jornal, fala- se sobre o Brasil ou qualquer outro país vizinho sem que se leve em conta as várias narrativas que disputam espaço para constituir as identidades em movimento (…)”

André Gravata, UOL EDUCAÇÃO

“Será sempre lost in translation enquanto não se encontrar o nome próprio. Enquanto o Brasil não falar em nome próprio. Enquanto o Brasil seguir insistindo em ser descoberto quando o que precisa é se inventar. Essa realidade é o cenário da extraordinária peça de Felipe Hirsch e Os Ultralíricos, A Tragédia Latino- Americana, em que os blocos são construídos para em seguida desabarem e serem rearranjados para logo depois virarem ruínas e tudo então ser mais uma vez reconstruído para desabar de novo e de novo e de novo.”

Eliane Brum, EL PAÍS

“(…) Com falas em português, inglês, espanhol e até francês – quase sempre traduzidas –, a peça discute temas como a violência, as mazelas sociais, as condições precárias de vida, a literatura, o binarismo político e ideológico, o sistema elitista, a não valorização da própria cultura, a falta de consciência histórica, entre outros (…)”

CATRACA LIVRE

“(…) Falando de histórico, de vez em quando também é sempre bom olhar no retrovisor. Em 1967, o teatro paulistano trazia na pele a força de ser contracultura. A Tropicália não significava só Caetano e Gil (como se isso fosse pouco) mas a cena cultural se inscrevia e caminhava como ARTE, sem distinções de linguagem. O autodescobrimento que O Rei da Vela proporcionou por meio das canoas de Zé Celso revelou um Brasil cru das lentes norte- americanas. A insistência de Renato Borghi em montar o texto era sintoma da inquietação de muitos artistas e da urgência do próprio tempo. Não significava emoldurar a realidade no palco, mas de fruir o presente para longe do fascismo vigente.

Para todo teatro de seu tempo, existe um público situado no mesmo tempo-espaço. No lado dos artistas, nossas frentes estão muito bem representadas. A grande diversidade de espetáculos encaixotados – viciados em um patrocínio que sofre de baixa autoestima ideológica – cumprem temporadas cada vez mais curtas. Ao público cabe reproduzir a culpa (“não gosto de teatro”, “não entendo de teatro) tão bem semeada no discurso da população. A falha aqui é discernir espetáculo de projeto histórico. O erro foi o teatro misturar, no mesmo lugar, o tempo presente de sua experiência com tempo urgente de suas contas a pagar. É o perigo dourado de transformar ossos em ouro, como a paródia A Nova Califórnia, presente na Tragédia. Nele, Magali Biff faz um desbunde ao horror.

Bem, agora mesmo, a política nacional acumula notícias que esse texto não dará conta de citar. São os mesmo blocos concentrados de substância de guerra se deslocando no jogo do poder. Do lado de cá, na sociedade, eles se autoexcluem com os carimbos “100 % Negro”, “100% Ateu”, “100% Gay”, “100% Vegano” e tantos outros. A necessidade de negar origens firma-se como instinto à sobrevivência.

Se O Rei da Vela do Oficina desvencilhou-se desse emaranhado sólido ao encontro de seu próprio momento, A Tragédia Latino-Americana tem força para acrescentar, na linha histórica, mais uma pedra fundamental ao famigerado Brasil”.

O ESTADO DE SAO PAULO